sábado, 8 de setembro de 2012

De viola e de flauta

Neste domingo, às 18h30, na Igreja do Convento de São Francisco, o violeiro mineiro Ivan Vilela e a flautista goiana Andrea Luisa Teixeira farão uma das últimas apresentações da MIMO 2012, contemplando a música "de raiz" do interior das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste.

Ivan tem mais de 15 CDs gravados e já ganhou o Prêmio Sharp em 1998 (você pode baixar faixas selecionadas de toda a discografia no site oficial do músicos) enquanto Andrea atua também como pianista e está fazendo doutorado em Lisboa.

Em lugar de mais explicações, confira a seguir, uma das músicas que farão parte do repertório desde domingo. Ouvir é mais fácil.

Naipes, orquestras e quartetos

Foto: Beto Figueiroa/O Santo

Não faltaram oportunidades, hoje na MIMO, para os fãs de música clássica que esperavam repertório de primeira. Logo pela manhã, os alunos das oficinas de instrumentos da Etapa Educativa executaram, no Teatro de Santa Isabel, obras de Gustav Holst (Suíte St. Paul, para cordas), Villa-Lobos (três movimentos do Quarteto de cordas n° 1), Ernst Mahle (Divertimento hexatonal para cordas), Emil Hartmann (Serenata op. 43, para sopros) e Edino Krieger.

De Krieger, foram tocadas a Suíte para cordas, a Serenata a cinco (para quinteto de sopros), Embalos (idem) e a Fanfarra concertante (sobre motivos do Hino Nacional Brasileiro) (para metais).

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O compositor residente da MIMO 2012 também compareceu ao concerto de encerramento da sexta edição do Curso de Regência comandado pelo maestro Isaac Karabtchevsky, que lembrou a relevância da continuidade dessa iniciativa pelo festival: "O número de orquestras no Brasil já é pequeno e são poucos os regentes no país que são oportunidades aos jovens. Eu mesmo enfrentei isso no início de minha carreira em São Paulo"

Os alunos do curso selecionados para conduzir a Sinfônica de Barra Mansa - cujo empenho de seus integrantes foi reconhecido por Karabtchevsky, Edino Krieger e pelo público ao longo do concerto - foram os seguintes:

1. Abertura de "A flauta mágica"
- Daniel Nery (SE)

2. Sinfonia Eroica
- Antonio Henrique Seixas (RJ)
- José Renato Accioly (PE)
- Juliano Aniceto (RJ)
- Leonardo David (ES)

3. Terra Brasilis - III. O encontro
- Alfredo Barros (CE)

4. O pássaro de fogo - suíte
- João Carlos Rocha (SP)
- Ubiratã Rodrigues (RJ)
- Jorge Luis Uzcátegui (Venezuela)

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Já na Basílica do Carmo, o Quarteto Borromeo realizou um concerto intimista e que não despertou nenhum fato alheio à execução musical que proporcionaram. Tudo estava contido ali, nas partituras que - fato inédito na história da MIMO, diga-se - podiam ser acompanhadas pelo público por uma projeção em tela. Vale a acrescentar que as partituras eram originais: o terceiro quarteto Razumovsky podia ser visto como deixado pelos garranchos traçados por Beethoven.

O repertório do Borromeo em João Pessoa e no Recife deu-se como anunciado pelo Estado de São Paulo:

"Começa com três animações de Nick emoldurando arranjo da famosa fuga para órgão de Bach BWV 552, o Vivace do quarteto opus 135 de Beethoven e Santa Claus is Comin to Town, música de Coots e Gillespie arranjada por Nick a partir da versão do pianista de jazz Bill Evans. Em seguida, a estreia sul-americana do quarteto Love Notes to Napa, de Daniel Brewbaker, compositor norte-americano de 61 anos, com projeção de partituras; e o terceiro dos quartetos Razumovsky, opus 59, de Beethoven, com projeção do manuscrito".

Nos passos de Chucho

Chucho Valdés toca melodias de jazz como se fossem cubanas e melodias cubanas como se fossem jazz. Compreensível se levarmos em consideração que ele cresceu assistindo apresentações de gênios do estilo, como Nat King Cole, em Cuba, onde vive até hoje. A mistura é tão eficiente que ele já levou para casa oito Grammy, incluindo o do seu último trabalho, Chucho's steps (2011), disco que marcou sua volta às gravações solo, após o New conceptions, de 2003. É esse álbum que ele apresenta hoje, na MIMO, com participação especial do virtuoso Egberto Gismonti, acrescendo à receita um tempero brasileiro. Destaque para a faixa Begin to be good, que faz referência às músicas Begin do beguine, de Cole Porter, e Lady be good, de George Gershwin:



CONCERTO | Chucho Valdés, com participação de Egberto Gismonti
DATA | 08/09
HORÁRIO | 20h30
LOCAL | Igreja da Sé

Para se ligar no "Chocolate"

Quando gravou o disco Chocolate ao lado do pianista Mario Laginha, para comemorar 25 anos de amizade e parceria musical, a cantora Maria João disse que escolheu esse nome para o álbum porque considera a música tão deliciosa quanto o doce. Basta ouvir a primeira nota de faixas como I've grown accustomed to his face (do musical My fair lady, de 1956) na voz de veludo da portuguesa, acompanhada pelo piano virtuoso, para concordar plenamente. O repertório é terno, com canções autorais, como This time (que fala sobre nuvens, flores e amores) e clássicos como When wish upon a star, Oscar de Melhor Canção Original quando cantada por Cliff Edwards interpretando o personagem Grilo Falante, no filme Pinóquio, produzido pela Disney em 1940. É para sair do concerto com um sorriso de orelha a orelha.



CONCERTO | Maria João e Mário Laginha
DATA | 08/09
HORÁRIO | 19h
LOCAL | Seminário de Olinda

O som do mundo

“O tambor é a batida do coração”. Esse é um dos depoimentos do s vários entrevistados a redor do mundo, que traduz o sentimento do som propagado pelo instrumento.

Presente em diversas culturas e religiões, o tambor funciona como motor na cotidiano de inúmeras manifestações. Indivíduos que dedicam sua vida tocando este instrumento milenar e que se deixam levar pela sua batida forte e contagiante são os coadjuvantes neste longa que tem no som e forma dos tambores de diversas parte do mundo o seu protagonista maior. 

Doc | 72min | 2011 | Brasília/DF | Livre



Festival MIMO de Cinema - Longa-metragem
DATA | 08/07
LOCAL: Mercado da Ribeira
HORA | 20:30 hs.

Olinda conhece o "Future Jazz"

Foto: Facebook

O Seminário de Olinda foi pequeno para o público que compareceu à apresentação do Projeto Ccoma, que mistura elementos do jazz e da música eletrônica, gênero que vem sendo chamado Future Jazz. O duo de Caxias do Sul (RS) formado por Roberto Scopel (trompete) e Swami Sagara (percussão) fez o show de estreia do seu álbum mais recente, Peregrino (2012).

Visivelmente nervoso e emocionado, Sagara, que conversou bastante com o público ao longo da apresentação, falou da importância de poder estrear o álbum dentro de um local como o Seminário. "É uma honra pra gente poder trazer um álbum como o Peregrino, que fala exatamente de viagem, da música em diferentes partes do mundo, para um local de tanta tradição musical", comentou.

Em seu repertório constaram canções como Milonga para los Perros, e Xangô é Rei, música feita em parceria com o recifense Di Melo. "Estivemos no Festival de Inverno de Garanhuns para levar um documentário que realizamos chamado 'Profissão: Músico' e tivemos o prazer de conhecer essa figura 'pernambucanolisticamente' incrível que é o Di Melo", revelou Sagara.

Apesar de mais contido com as palavras, Scopel não economizou talento para manejar o trompete, o theremin e o clarinete. Já Sagara ficou responsável pelas bases eletrônicas, pela bateria eletrônica e pela hang drum. Durante a execução de cada música, diferentes projeções eram exibidas nas paredes da igreja, o que enriqueceu bastante a apresentação do duo. Ao final do show, o público pediu bis, sendo prontamente atendidos com a canção Milonga para los Perros.

Mostra MIMO de Cinema - Curtas


A Mostra MIMO de Cinema chega ao seu penúltimo dia com muitas opções de curtas a serem conferidos logo mais às 18:00 hs na igreja seminário de Olinda.

Jazz by Giz, de Renato Cabral
Uma pincelada de Jazz em três minutos. A história de um dos quadros de um tatuador que toca com o giz de cera.
Doc | 3min | 2012 | Uberlândia/MG | Livre 
Tom Zé em A lavagem das calcinhas voadoras, de Huila Gomes e André Hime
Depois da chuva de calcinhas voadoras no Rio de Janeiro, Tom Zé volta para casa e faz a cerimônia de consagração!
Doc | 10min | 2011 | São Paulo/SP | 18 anos 

Kaosnavial, de Marcelo Pedroso e Antonio Oliveira

Fruto de experiência única vivida em um de seus shows apresentados na zona da mata de Pernambuco, quando o Maracatu Estrela de Ouro invadiu o palco na apresentação, Kaosnavial retrata o encontro do compositor Jorge Mautner com o grupo de maracatu original de Aliança.

Ainda maravilhado com aquela invasão no seu show, Jorge logo recebeu uma proposta juntamente com seu parceiro de longa data Nelson Jacobina (falecido recentemente) para montar uma turnê com o Estrela de Ouro intitulada Kaosnavial, fazendo referência à área de canavial onde habita o grupo  de maracatu. O projeto foi imediatamente aceito e transformado em uma trilogia, com álbum, turnê-espetáculo e agora o curta-metragem.

Com direção de Afonso e Pedroso, o curta leva Jorge Mautner à zona da mata e juntamente com o mestre Zé Duda, líder do “Estrela Dourada”, o músico se traveste com vestimentas características do maracatu e logo torna-se “Jorge Mata”, batizado assim pelo próprio Zé.

Doc | 22min | 2012 | Recife/PE | Livre 


Para matar a saudade, Orquestra Contemporânea de Olinda

foto: divulgação

Olinda está em ritmo de carnaval desde ontem, quando na cidade já rolou a primeira prévia na Pitombeira. E hoje a banda que é a cara da cidade, promete não deixar ninguém parado. Dois anos depois, a Orquestra Contemporânea de Olinda, volta à MIMO para show de seu segundo disco, Pra Ficar - disponível no site da banda em troca de apenas um tweet de divulgação - lançado mês passado. 

Recomendada pela crítica mundial por sua mistura de vários ritmos porém com uma identidade bem definida, a OCO contou nesse novo trabalho com a produção do músico americano Arto Lindsay, que tem trabalhos com renomados nomes da música nacional, entre elas Caetano Veloso e Marisa Monte, e vai dividir o palco com a banda esta noite.

As expectativas são as melhores possíveis e pra dar um gostinho do que espera todos às 22h na Praça do Carmo:

O eterno lóki faz concerto memorável

Ao entrar no palco do teatro Santa Isabel ontem, Arnaldo não precisou fazer muito esforço para agradar o público. As centenas de pessoas que conseguiram uma vaga no local sabiam muito bem quem estavam indo ver e demonstravam-se ávidos por qualquer canção dos Mutantes ou da própria carreira solo do compositor.

Sempre muito aplaudido entre uma música e outra, o ex-mutante fez um show intimista acompanhado de seu piado de cauda, variando bastante o repertório do que estava previsto, executando hits como “Heat the Road Jack”; as de sua autoria ”será que eu vou virar bolor”,“uma pessoa só” e algumas dos Mutantes  como “posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha o meu rock n’ roll” e “desculpe baby”. Todas executadas e cantadas com Arnaldo sempre improvisando e dando nova roupagem.

As mais de 500 pessoas presentes no teatro demonstraram durante toda apresentação muita excitação em estar ali, de poder ver o Arnaldo Baptista. Diversas vezes ouviam-se gritos de “Corta jaca” ou então “toca Arnaldo Baptista”. Atitude que não agradou em nada o restante do público presente que preferia continuar imerso na áurea daquele concerto memorável e com pinceladas de melancolia que rodeava o teatro. Mas o músico sempre muito carismático saciou o desejo de alguns ao finalmente executar “Corta jaca” e quase fazer o teatro vir abaixo.

Não há muito o que se falar de um show como esse. É um daqueles espetáculos que você vai sem muita exigência ou receio de não gostar, pois trata-se de um artista muito bem fincado no status de um dos maiores gênios da música brasileira, com um legado invejável, que já cumpriu e muito bem o seu papel dentro do cenário nacional e universal, influenciando artistas como Sean Lennon e Kurt Cobain. A maioria dos que estavam lá certamente queriam ver um ídolo, um cara que arrancou do maestro Rogério Duprat a seguinte afirmação: “Arnaldo Baptista foi o músico mais importante que o rock brasileiro já teve”.

Show épico, pra ficar pra posteridade.  

Foto: Beto Figueiroa

Um concerto de alma latina

Foto: Beto Figueiroa/O Santo

Ao contrário dos programas de concertos sinfônicos, onde compositores latino-americanos são pouco frequentes (e quase nunca ocupam exclusivamente o espaço inteiro de uma apresentação), nos concertos violonísticos eles são uma constante. E não foi diferente com o Duo Assad, que inclusive priorizou autores  brasileiros na sessão de ontem à noite na Igreja da Sé.

Piazzolla, Leo Brouwer, Radamés Gnattali, Ernesto Nazareth, Egberto Gismonti, Garoto, o próprio Sergio Assad e, claro, Villa-Lobos marcaram presença na relação. Além deles, João Pernambuco, que serviu para enfatizar a ligação dos irmãos Assad com nosso Estado. Segundo lembrou Sergio, ambos conhecem o Recife desde os anos 1970, quando gravaram um disco com a Orquestra Armorial.

Odair fez uma participação solo na Sonata del Caminante, do cubano Leo Brouwer, com temas inspirados na Amazônia e no Nordeste. Antes e depois da interpretação, ele não deixou de comentar: "Não sei como consegui memorizar tantas notas".

O encerramento coube a Tahhiyya li ossoulina, de Sergio Assad, uma peça de influência árabe escrita em homenagem ao pai do violonistas e que foi agraciada com o Grammy de Melhor Composição Contemporânea em 2008.

Colonial brasileiro no Mosteiro de São Bento

Foto: Tiago Calazans/O Santo
Arnaldo Baptista, sem dúvida, foi um dos nomes mais badalados da programação da MIMO 2012. Colocar, portanto, um concerto de música colonial brasileira quase simultaneamente à sua apresentação, seria um tiro no pé, com risco de casa vazia.

Não seria preciso chamar os Caçadores de Mitos para se constatar o contrário: a superlotação do Mosteiro de São Bento disse tudo. E não estamos levando em consideração o início das prévias carnavalescas de Olinda, cujo agito pelas ruas em nada comprometeu a frequência de diversos jovens à apresentação do grupo Calíope na noite dessa sexta.

O repertório, formado por obras programadas pelo grupo em diversas temporadas passadas, teve basicamente três momentos: 1. o colonial brasileiro, com peças de José Maurício Nunes Garcia, Marcos Portugal e um anônimo mineiro; 2. o renascentista, com madrigais do italiano Claudio Monteverdi; e 3. o popular luso-brasileiro, com modinhas brasileiras e vilancicos de natal portugueses.

O bis escolhido foi justo um dos vilancicos, Pois sois mãe da flor do campo, mas poderia ter sido qualquer outra peça, tamanha a qualidade de execução, de cantores e de instrumentistas.

Neste sábado tem mais música clássica na MIMO

Se ontem foi o dia da música sacra e de câmara em Olinda, hoje será o das orquestras no Recife. E as apresentações MIMO 2012 neste sábado começam às onze da manhã. Confira a programação:

- A segunda apresentação da MIMO in Concert, agora com os alunos das oficinas de instrumentos da Etapa Educativa da MIMO, acontece no Teatro de Santa Isabel, às 11h. O esquema do concerto será o mesmo de todos os anos, com os alunos de cada naipe tocando de duas a quatro peças que foram ensaiadas ao longo da semana. Os naipes são: cordas dedilhadas, cordas friccionadas, madeiras, metais e percussão.

- Às 17h, também no Santa Isabel, será a vez da Orquestra Sinfônica de Barra Mansa no concero de encerramento do Curso de Regência da MIMO (mais detalhes, no post abaixo).

- Por fim, às 18h, Basílica do Carmo, a música de câmara voltar a se destacar com o Quarteto Borromeo (vide outro post abaixo).

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Atenção, quem estiver em Olinda: às 18h, haverá concerto da Banda Sinfônica do CEMO (Centro de Ensino Musical de Olinda), na Igreja de São João dos Militares, bairro do Amparo.

O bom humor de sempre para a plateia cativa


Com a presença de Edino Krieger, compositor residente da MIMO 2012, e Lu Araújo, Diretora Executiva da Mostra, o Duo Milewski trouxe seu habitual repertório para a Igreja da Misericórdia, na tarde dessa sexta. Começando com a Ungarisch do romântico norueguês Johan Halvorsen, Jerzy Milewski e Aleida Schweitzer apresentaram peças de Chopin, Gershwin e Debski, fora os choros de sempre: Tico tico no fubá e Brasileirinho.

Mas o programa do concerto teve também boas novidades: uma breve seleção do espanhol Manuel de Falla; Pretty Trix, de Joe Venuti, o pai do violino jazzístico; e, principalmente, três peças de Flausino Vale, maior compositor brasileiro para o instrumento. Do mineiro, foram tocadas Serenata onírica, Saudades da minha mãe e Ao pé da fogueira.

Jerzy aproveitou a oportunidade de ter Edino Krieger na plateia para brincar com ele: "Edino foi violinista mas compôs tão pouco para o instrumento", porém emendou: "Pior foi Chopin, que não compôs nada para violino". E depois de tocar uma transcrição de uma mazurca ainda retomou:

- Maestro, o que o senhor achou de Chopin.
- Não faria melhor - respondeu Krieger
- Tão vendo: ele ainda por cima é modesto. (risos)

Ao final, os agradecimentos ao público foram obrigatórios, segundo Jerzy, porque os ouvintes correram "um risco muito grande em sair de casa para assistir a um recital de violino solo, pois violino mal tocado é capaz de matar".

E para já despertar as saudades do Duo Milewski, deixamos aqui a melodia inesquecível de Country in E, de Krzesimir Debski, em um vídeo amador que encontramos do casal no YouTube.