domingo, 9 de setembro de 2012

Eu estive na MIMO

Foto: Facebook
A nosso convite, o professor de música Lucas de Moura, que esteve no concerto do Duo Assad (sexta à noite), preparou um depoimento pra o Blog da MIMO. O texto abarcou vários momentos da apresentação, por isso reproduzimos aqui os principais trechos.


O Duo Assad, que se apresentou na Igreja da Sé, demonstrou seu vigor artístico, fruto de muita vivência musical e estudo. A sonoridade entrosada dos dois violões e a atmosfera própria imprimida a cada música tocada é resultado de uma carpintaria cotidiana que já dura mais de 30 anos.

O concerto começou com Eponina, valsa de Ernesto Nazareth (1863-1934). Um momento de extrema delicadeza: a vibração era única, e os dois violões, mesmo cada um tendo as suas características de timbre e fraseado, se encontravam no mesmo pulsar.

Foram executados dois números da suíte Retratos, de Radamés Gnatalli (1906-1988): Ernesto Nazareth (Valsa) e Chiquinha Gonzaga (Corta-jaca). A valsa faz referência ao clima delicado do início do concerto, enquanto o corta-jaca exige velocidade e cuidado para não esbarrar nas notas.

Após o corta-jaca de tirar o fôlego, foi o momento solo de Odair com a Sonata del caminante, composta e a ele dedicada por Leo Brouwer (1939). A música faz referência ao que o compositor viu e ouviu em sua passagem pelo Norte-Nordeste do Brasil: a Amazônia, os índios, o sertão nordestino e o ritmo do baião, tudo isso captado por Leo de maneira bastante pessoal. Odair mostrou toda a sua capacidade comunicativa, sua técnica e sua sonoridade apurada.

Seguiram-se duas peças célebres de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), originalmente para piano, em arranjo para dois violões de Sérgio Assad: A lenda do caboclo e o Choros n° 5 (Alma brasileira). A sonoridade do duo nessas músicas é impressionante: a atmosfera emocional, os rubatos bem colocados. Emocionante.

A seguir, o nuevo tango do argentino Astor Piazzolla (1921-1992): dois movimentos da Suite troileana, em mais um arranjo de Sérgio Assad. Intensidade emocional, contrastes rítmicos. Seguiu-se o singelo Palhaço, de Egberto Gismonti (1947), em mais outro arranjo de Sérgio Assad.

A última música do programa, Tahhia li Ossoulina, é uma homenagem de Sérgio Assad às raízes orientais de sua família. Como bis, o duo tocou a Valsa venezuelana n° 3 de Antonio Lauro (1917-1986), talvez em arranjo também de Sérgio. 

Assistir ao Duo Assad foi uma grande experiência musical, arrisco dizer, não só para mim como para todos os que estavam na plateia. A sonoridade integrada dos dois comunicou diferentes afetos, diferentes climas, mantendo o público atento do começo ao fim.

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