sábado, 4 de setembro de 2010

Trio "das garotas" evidencia repertório nacional de câmara

Foto: Renato Spencer

Áspera, inquietante, pesada. Assim poderia ser definida a ambientação sonora inicial do recital com o Trio Puelli, que começou pontualmente às 18h no Convento de São Francisco. Isso porque o repertório escolhido por Ana de Oliveira (violino), Ji Shim (violoncelo) e Karin Fernandes foi pensado para acabar com a resistência a linguagens e discursos musicais contemporâneos, afastados do universo musical que o grande público de música clássica está acostumado a ouvir.

Mas essa primeira impressão logo se dissipou à medida que as "garotas", significado de puelli em latim, foram se revezando entre si para explicar o repertório, cujas duas primeiras peças foram Alternâncias (1997), do paulista Ronaldo Miranda, e Prelúdio e Toccata (1997, rev. 2008) do também paulista Mário Ficarelli, peça esta dedicada ao Trio Puelli.

Com a simpatia das instrumentistas, a plateia já tinha se condicionado e dado fim a qualquer resistência quando elas começaram a tocar Estruturas Verdes (1976) do carioca Ricardo Tacuchian, a peça mais arrojada do programa. Karin Fernandes havia explicado que a obra, cujo título tem conotação ecológica, fazia amplo uso de técnicas expandidas (formas não convencionais de emissão de som pelos instrumentos).

No segundo movimento, por exemplo, o pianista tinha de tocar as cordas do piano diretamente, obtendo um timbre igual ao do cravo, e violino se valia de um glissando (deslizado) para imitar a sirene de um carro dos bombeiros. Já no terceiro, o pianista fazia uso de bastões de vibrafone para percutir diretamente as cordas, tornando o timbre mais denso.

(continua)

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