domingo, 5 de setembro de 2010

Sangue, suor e lágrimas

Foto: Tiago Calazans

As célebres palavras do primeiro discurso de Winston Churchill como primeiro ministro britânico tornaram-se um recorrente chavão para exprimir toda a dedicação e sacrifício a uma causa ou a uma missão, mas poucas vezes elas chegaram tão perto de adquirir significado real quanto ontem, no concerto de Leonardo Altino e Ana Lúcia Altino Garcia no Convento de São Francisco.

O suor era dado a todo momento por Leo Altino. Ao final de cada movimento, foi preciso ele enxugar o violoncelo e a si mesmo, devido tanto ao calor que fazia na igreja quanto às dificuldades que cada obra impunha. Sangue não houve, mas parecia haver quando o suor deslizava pela madeira rubra do cello - e o repertório escolhido fazia crer nisso. Só faltavam as lágrimas.

Antes da Sonata de Chostakóvitch, Leo Altino comentou com o público que ele a tocava há 25 anos, mas que somente veio a entender o que estava por trás das melodias do compositor russo quando seus professores russos de cello explicaram a ele a dor que não podia ser explicitada por conta da censura do governo soviético - e de fato os momentos mais líricos da peça são intensos mas de uma profundidade velada, evitando ser diretamente tocante.

Leo Altino comentou particularmente sobre o segundo movimento, que sugere uma imagem de fábrica de seres humanos, e o terceiro, cuja melodia considerava bela, mas árida, tanto que o público - que aplaudia indiscriminadamente após movimento - de fato ficou sem reação quando se deu a execução dele. As lágrimas estavam prometidas, mas só calharam de vir após o segundo bis.

O primeiro havia sido Requiebros, de Gaspar Cassadó, mas com a insistência dos presentes ao Convento de São Francisco, foi repetido o Poema III de Marlos Nobre, que Leo Altino e Ana Lúcia dedicaram ao trombonista Radegundis Feitosa, amigo da família. O clima de comoção pôde ser testemunhado nos bastidores, pelos que iam cumprimentar mãe e filhos virtuoses.

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Em tempo, Radegundis será homenageado na MIMO amanhã às 16h30, na Igreja do Monte, pelo grupo Paraibones.

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