sábado, 4 de setembro de 2010

Da instrospecção ao delírio

Quando se fala em jazz, pensa-se logo em sofisticação e requinte. Música para ser ouvida à luz baixa, num ambiente pequeno e esfumaçado. Nessas ocasiões, costuma-se imaginar um pequeno grupo tocando e improvisando para uma platéia atenta e reservada. Uma liturgia musical quase imutável. No entanto, foi interessante ver essa memória cristalizada se fragmentar e ruir na apresentação do Mario Canonge Trio na Igreja da Sé. Indo do mais etéreo acorde ao mais dançante tema, o combo levou a platéia da MIMO da introspecção ao êxtase.

Canonge iniciou seu concerto com a surpreendente Manman Dlo e, sem mais delongas, o trio mostrou a que veio. O pianista desferia acordes pesados e dissonantes enquanto o baixista Liney Marthe fornecia o chão harmônico e o baterista Chander Sardjoe dividia o compasso em mil partes distintas. Em Plein Sud, um tema desafiador, pois apresentava variações de dinâmica a todo instante, os músicos despejaram sua fúria improvisativa. Madikera evocou os tambores da Martinica (com direito a citação de Chovendo na Roseira) e a partir daí o balanço começou a ganhar destaque.

Ao final do concerto, com uma simpatia contagiante, Canonge convidava a platéia a cantar e dançar enquanto improvisava mostrando que traz em sua música não apenas o aspecto contemplativo do jazz, mas também o interativo e o lúdico de sua terra natal. Quem há de resistir ao swing caribenho? Impossível. O resultado: público e músicos dançando e cantando como se fossem um. Coisas da música e sua capacidade de seduzir e encantar.

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