segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Guadalupe

Foto: Beto Figueiroa

A distância entre Igreja de Guadalupe e a maioria das outras igrejas onde aconteciam as apresentações da Mimo não intimidou as pessoas que queriam ver a homenagem do Quinteto de Metais do Nordeste ao Maestro Duda. O concerto das 18h30 do último dia da Mimo foi marcado por um clima de informalidade e o público pode dar muitas risadas com um "mestre de cerimônia" bastante conversador: o próprio homenageado.

O Quinteto trouxe um repertório com várias composições dele como Saudade e Nino, o Pernambuquinho e também executou músicas de outros compositores consagrados como Tom Jobim, Sivuca e Villa-Lobos com os arranjos do Maestro Duda.

Graças a Doutor João!

Às 19h da última noite, entra em cena, no Seminário de Olinda, um senhor de óculos escuros e começa a improvisar no piano. Logo após a segunda música, César Camargo Mariano explica: "Estou bastante gripado e a gripe terminou se tranformando em uma sinusite, que resultou em um derrame no meu olho".

Apesar de não ter participado do encontro de músicos marcado para este domingo, o pianista melhorou de ontem para hoje e marcou presença na Mimo. Mariano creditou sua melhora rápida ao médico pernambucano João Veiga. "Eu estava que não me levantava da cama, então o doutor João Veiga chegou no hotel e levou tudo embora. Quando ele saiu eu já estava levantando da cama", contou o músico. "Ele é o cara", brincou.

Curumim

Também faixa do álbum "Samambaia", citado nos meus dois últimos posts, a música Curumim, de César Camargo Mariano, teve sua história contada na noite de hoje. O músico revelou que compôs a obra para seu filho João Marcelo, que, quando pequeno, tinha cabelos negros e lisos, era moreno e vivia correndo pela casa. "Ele parecia um indiozinho e costumávamos chamá-lo de curumim" contou.

As releituras especiais de Mariano

Foto: Marcelo Lyra

O premiado César Camargo Mariano não precisou de nada além de um piano para fazer a alegria das pessoas que lotavam o Seminário de Olinda no início da noite de hoje. A apresentação, que começou com um improviso feito pelo pianista, teve como segunda música, a que dá nome ao disco "Samambaia", de 1981, que Mariano afirmou ter marcado uma fase muito boa de sua carreira.

No repertório do músico, que também é produtor, releituras de Carinhoso, de Pixinguinha e João de Barros, e de Setembro, de Ivan Lins e Vitor Martins. "Setembro é na minha opinião uma das mais bonitas obras que existem", defendeu. O bis ficou por conta da bossa nova, com o clássico Wave, de Tom Jobim.

Mariano também revelou que tocar na Mimo estava sendo uma experiência fantástica, pois há muito tempo que venho namorando o festival. "Estou muito feliz de estar aqui e muito feliz de estar pela primeira vez tocando em uma igreja. É incrível o clima de serinidade que reina aqui", completou.

Nacionalismo no 7 de setembro

Muito aplaudidos do inicio ao fim, o Quarteto Radamés Gnatalli apresentou, nesta noite de encerramento da Mimo, um repertório muito adequado à data: 7 de setembro. Ao escolher os compositores nacionalistas Heitor Villa-Lobos e Cláudio Santoro, o quarteto fez uma belíssima homenagem à Pátria.

E nem o calor que, aparentemente, fazia no altar da Igreja de São Pedro foi capaz de apagar o brilho da apresentação. Muitos simpáticos, os músicos agradeceram à presença de todos e foram retribuídos com longos aplausos.

Resultado: ao final do concerto, uma pequena multidão se aglomerou para comprar o CD do grupo, que estava sendo vendido na saída da igreja.

Parafernália


Balangandãs, badulaques, batuques, miçangas, tamboretes, violas de toda sorte - moringas e tochas conduziram a alquímica apresentação da Grande Companhia Brasileira de Mystérios e Novidades.

Quem esteve na praça do Carmo, a partir das 16h, pôde se encantar com os sortilégios da mitologia grega que os atores em pernas-de-pau entoaram e representaram. O sol, que no momento se punha, fez pairar de vez a atmosfera mítica do espetáculo - que por sinal lembrou em vários pontos as bacanais do teatro de oficina de Zé Celso Martinez, que você pode ver aqui:

Logo mais

Às 19h de hoje, o músico César Camargo Mariano toca no Seminário de Olinda. Mariano já trabalhou com ícones da música brasileira, como Elis Regina, Chico Buarque e Gal Costa e seu disco, "Samambaia" foi considerado um dos 10 melhores de música instrumental já editados no mundo. Confira um vídeo da música que dá nome ao álbum:

Mostra de cinema

Foto: Divulgação

Hoje, às 18h30, vai ser exibido o filme Palavra Encantada no pátio da Igreja da Sé. Um documentário sobre o cancioneiro brasileiro, focando na relação entre poesia e música, que traz o depoimento de vários ícones do nosso cenário musical como Chico Buarque, Adriana Calcanhotto, Arnaldo Antunes , Maria Bethânia, Lenine, entre outros. Essa é uma oportunidade para quem perdeu de ver o filme quando ele estava em cartaz no Recife.

Um pouco de Hermeto

Fechando a 6º edição da Mimo, Hermeto Pascoal se apresenta hoje, às 20:30, na Igreja da Sé.

Enquanto a hora não chega, vale a pena conferir algumas experiências do "mago dos sons":


Transporte

Duas vans da Mimo estão nas ruas estes dias para facilitar o acesso aos principais pontos de apresentação em Olinda. Elas saem da Biblioteca Municipal, a partir das 18h, e ficam circulando para transportar o público para as igrejas.

Um chorinho chamado Odeon

Para encerrar o concerto, no bis, Joana Boechat tocou duas músicas, sendo a segunda um conhecidíssimo chorinho, Odeon, cuja autoria é de Ernesto de Nazareth, mas que ficou famoso mesmo na voz de Nara Leão. Em seu debut solo, Fernanda Takai regravou a música com uma nova pegada. Para quem ficou curioso, segue o vídeo abaixo:

"Se for pra tocar Beethoven, que seja bem tocado"

Foto: Divulgação/Mimo

Muita gente se perguntava como um senhor de andar tão adagio como o pianista Luiz de Moura Castro tinha um espírito tão vivace ao tocar - eu também.

Então, lembrei-me de uma conversa com Prof. Eli-Eri Moura - em sua casa, em João Pessoa - quando comentei que o concerto da Petrobras Sinfônica na Mimo 2007, só com Chopin e Wagner, foi o melhor daquele ano no Grande Recife, "apesar do repertório conversador", disse eu.

E Eli-Eri (por sinal, genro do Maestro Duda) complementou: "Pois é, se for pra tocar Beethoven etc., que seja bem tocado". Essa observação voltou à minha cabeça ao ouvir Luiz de Moura Castro atuar com a Sinfônica de Barra Mansa e o Quarteto de Cordas de São Petersburgo, respectivamente sexta e sábado.

As duas execuções foram das mais belas de Mozart e Beethoven que se pôde ouvir em Pernambuco nos últimos tempos: fluida, de memória, sem erros, longe de toda banalidade e livre de qualquer equívoco interpretativo.

Pena que se todos esses predicativos fossem pressupostos para toda execução de compositores canônicos, perderíamos a noção do que é excelente e do que é mediano.

Calunga no choro

Foto: Marcelo Lyra

Falando no 1x0 de Pixinguinha, que Gianni observou alguns posts abaixo, David Linx (o qual ganhou minha simpatia ao cantar a Melodia Sentimental) talvez quisesse dançar samba, mas rolou "de boa" um passo de maracatu nação.

Falta de educação

Se fosse sobre a vida alheia, eu não teria prestado atenção, mas fiquei de orelha em pé ao me dar conta de que Marco César estava conversando perto de mim sobre a formação instrumental da Orquestra Retratos do Nordeste e fiquei com o bloquinho tomando nota. Isso dentro da Sé, antes de começar o show do trio Rubalcaba, Linx e Krakowski.

Ele explicava que o conjunto de cordas dedilhadas funciona exatamente como o de cordas friccionadas e que pode tocar sem transposição qualquer peça feita para esta, ou seja, lendo nas claves originais. Eis a formação:

Bandolins = violinos
Bandolas = violas
Bandoloncelos = cellos
Violachos = contrabaixos

Marco César também contou que, numa viagem a França, descobriu que existem bandoloncelos altos, tenores e baixos, se minha memória não falha (não deu pra anotar).

Naturalmente, devo minhas desculpas pela bisbilhotagem (risos)

Peçam bis porque tem bis

Para o concerto de encerramento do Curso de Regência, às 11h30 na Sé, dez alunos foram selecionados. Eles irão reger o Prelúdio da Bachianas Brasileiras n° 4, o Concerto n° 5 "Imperador" de Beethoven, em três movimentos, e a Quarta de Schumann, em quatro movimentos. Mas vejam que são dez alunos, listados abaixo, para um total de oito movimentos.

1. Antônio Henrique Seixas de Oliveira
2. Ciro José Tabet
3. Henrique Villas Boas de Alencar
4. Marcos Antônio Silva Santos
5. César Timóteo dos Santos
6. Eder Paulozzi Nunes
7. Leandro Schaefer
8. Alexei Nokonov
9. Laércio Sinhorelli Diniz
10. Flávio Fernandes de Lima

É que tem a Abertura de Carmen e o Miudinho da quarta Bachianas. Mas só se vocês pedirem bis.

"O músico é a fonte da música"

Declaração de Hermeto Pascoal a José Teles no JC de hoje, digna de reflexão (ou de discussão):

“Até esta entrevista que estou dando para mim é música. Ouço música o tempo inteiro nas coisas que estão em volta de mim, por isto nunca ouço discos. Quando vou aí ao Nordeste fico ansioso para ouvir os sons tão ricos daí, mas me decepciono. É só funk, rock, não tem nada do Recife, um frevo, um forró. Agora a culpa não é de gravadora, nem de rádio que não toca. A culpa é do músico, porque eu não gravo nada ruim. Se você pega água de uma fonte e ela é ruim, o problema está na fonte. O músico é a fonte da música. Se ela é ruim, a culpa é dele”.

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Em tempo, pergunto-me se Teles está vaticinando, no fim da matéria: "E preparem-se porque, de repente, Hermeto Pascoal pode cismar e dar o bis descendo a ladeira da Sé".

A batuta mortal


Foto: Divulgação

Pra terminar de falar de Isaac Karabtchevsky, apenas deixo por extenso a historinha que ele contou sobre o cajado de Jean Baptiste Lully - arquiconhecida (para usar uma palavra típica do filósofo Olavo de Carvalho) de maestros, compositores e amantes da música clássica.

A batuta surgiu apenas no início do século XIX. Antes, os regentes usavam as mãos, o arco do violino (quando o spalla orientava o grupo) ou, mais antigamente, um cajado - com o qual marcavam o compasso batendo-o no chão.

Desde que Lully (o mais representativo compositor barroco francês) morreu de gangrena, uma semana após acertar seu próprio pé com o cajado, acidentalmente, seu finale tragicômico tem sido usado como história pitoresca - ou como alegoria do autoritarismo a ser evitado pelos regentes, já que o compositor (membro da Corte de Luís XIV, o Rei Sol) era irritadiço e caprichoso.

Respeitáááável públicoooo!

A Grande Companhia Brasileira de Mystérios e Novidades abre sua turnê de cinco apresentações no Grande Recife apresentando-se às 16h na Praça do Carmo, em Olinda.

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Não falamos nela aqui no blog porque, até mesmo para toda a equipe da Mimo, ela é um grande mistério e uma grande novidade.

Zero flashes!

O trio que se apresentou neste domingo, na Igreja da Sé, pediu que ninguém fotografasse ou filmasse a apresentação naquela noite. Apenas os profissionais que estavam registrando o evento para a própria Mimo puderam fazer fotos e vídeos.

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Devido ao grande número de pessoas interessadas em ver o concerto, além de uma Igreja da Sé lotada, do lado de fora um aglomerado se formou para assistir a apresentação pelo telão.

Pedagogia com simpatia

Foto: Marcelo Lyra

Além do maestro Isaac Karabtchevsky, outra grande simpatia das atrações de música clássica da Mimo 2009 foi a [bela e] promissora pianista Joana Boechat, que, sempre sorrindo, falou sobre cada uma das peças do repertório e dos não aplausos entre movimentos.

Versatilidade

Sergio Krakowski mostrou ao público que um pandeiro produz muito mais sons do que sonha a nossa vã filosofia. Ao se meter entre dois renomados nomes internacionais do jazz, ele mostrou que a sua percussão portátil não se intimida diante de outros ritmos e que pode fazer uma parceria muito criativa com um piano. (Especialmente se é Rubalcaba quem está ao piano, né?)

O percussionista parecia, muitas vezes, tomado pelo ritmo do seu instrumento. E, em algumas músicas, o seu pandeiro travou duelo com o piano do cubano. Quem se divertia era David Linx, o belga era só sorrisos vendo os amigos esbanjar técnica e talento.

Eles estão em todas!

Foto: Marcelo Lyra

Apresentaram-se em Olinda, no Recife, passaram na festa da Mimo e, na noite de domingo, foram conferir a apresentação de Rubalcaba, David Linx e Sergio Krakowski na Igreja da Sé. O pessoal do St. Petersburg String Quartet não tá querendo perder nada da programação da Mimo 2009.

Surpresa das boas

Foto: Marcelo Lyra

A apresentação que aconteceu na Igreja da Sé, nesta noite de domingo, foi realmente incrível. Das melhores que presenciei na Mimo este ano, não só porque me arrancou lágrimas, mas, principalmente, pelos artistas de altíssimo nível.

O percussionista Sergio Krakowski, o cantor David Linx e o pianista Gonzalo Rubalcaba pareciam se conhecer de muito tempo, pois o entrosamento no palco potencializou ainda mais o clima gostoso da noite.

Um dos pontos altos da apresentação foi, sem dúvida, quando o trio executou Rosa de Pixinguinha e o cantor belga acertou o português em uma letra tão sofisticada e bela. Do compositor carioca também foi apresentada a música Um a Zero que ganhou uma forma bem diferente da que estamos acostumados a ouvir nas cordas do chorinho.

Fogos para a Mimo, afagos para a Sinfônica

Como Laura pontuou, alguns posts atrás, Isaac Karabtchevsky estava muito simpático, ontem, no concerto com a Sinfônica do Recife na Basílica do Carmo.

Acrescento: nunca presenciei, até o momento, uma preleção de concerto tão rica para o público quanto aquela. Numa empatia sem igual com a plateia, o maestro correspondeu aos aplausos de pé em sua entrada - manifestação a qual, acredito, somente Cussy de Almeida recebeu nos últimos tempos* - e dispensou a maior parte do tempo ao inusitado happening.

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Toda vez que era interrompido pelos fogos de artifício de uma procissão que circulava pelos Bairros de Santo Antônio e São José, Karabtchevsky dizia que eles eram pra comemorar o sucesso da Mimo, pois coincidiu duas ou três vezes de espoucar quando ele falava no nome da Mostra.

Antes de sua informal aula de condução orquestral, o maestro também ressaltou a satisfação de vir ao Brasil ministrar seu Curso de Regência na Mimo, "num país que tem somente 11 orquestras sinfônicas", e levantou o moral da Sinfônica do Recife, diante do Secretário de Cultura da cidade, Renato L: "Digo aos políticos e ao público que zelem pela sua orquestra".

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* Pelo trabalho com a Orquestra Criança Cidadã dos Meninos do Coque, que se apresentou na Mimo 2008 com o Duo Milewski.

Estive na Mimo

"Muito bom ver um artista 'voltando' pra casa renovado, a busca por timbres e a união da eletrônica com a acústica, junto com a projeção de imagens, mostram que jam da silva está pronto pra ganhar o mundo."

Claudio Santana, percussionista